domingo, 15 de março de 2009

Encontro com a Morte

Douglas era um jovem com seus vinte e poucos anos, diferente dos meninos da sua idade, não gostava de sair pra baladas, não namorava, tinha poucos amigos e tinha um sonho, conhecer a tão temida morte. Quase sempre, fechado no seu quarto, vivia chamando a, e como ela nunca aparecia, ele dizia aos amigos que a morte não existia, que isso era invenção do povo. Ou então, que ela era metida e arrogante e só aparecia para fazer as separações e deixar as pessoas tristes.

Certo dia, Douglas abriu a porta do terraço da sua casa, e deu de cara com uma ave estranha, não soube identificar que espécie de pássaro era aquela. O bicho era horrível, tinha pêlos negros, um rosto arredondado cor de vinho, os olhos eram bem pequenos e preto. O animal olhou profundamente para Douglas que assustado fechou a porta do terraço. Passou alguns minutos recuperando o fôlego e tentando descobrir como aquela coisa foi parar ali. Abriu novamente a porta, agora bem devagar, e não viu a ave. Colocou só a cabeça pro lado de fora e de repente o animal começou a voar de um lado pra outro como se estivesse com raiva. Douglas apavorado fechou a porta e correu para o telefone.

Ligou para o seu melhor amigo, contou o que tinha acontecido, mas ele não acreditou e disse que tudo não passava de uma viagem da sua cabeça. Douglas por sua vez, indignado, desligou o telefone e foi conferir se era mesmo viagem. Primeiro colocou o ouvido atrás da porta, mas não havia nenhum barulho, tudo estava calmo, abriu então a porta e viu o animal de costas e com uma respiração ofegante. Douglas ficou convencido que não era viagem da sua cabeça e voltou para o seu quarto pensando como tiraria aquela coisa do terraço.

Alguns dias se passaram e Douglas não havia encontrando nenhuma forma de tirar aquele bicho de lá. Na verdade, ele tentou algumas vezes expulsar a ave com uma vassoura, mas ela ficava com mais raiva cada vez que ele mexia nela. Quinze dias haviam passado e nada do bicho tomar rumo. Douglas foi chegando de mansinho, olhou dentro dos olhos da ave e então ela foi se transformando numa velha, estava vestida com uma roupa preta, o rosto todo enrugado e na cabeça, cobrindo seus cabelos brancos, tinha um chapéu preto no formato de cone. Ele não acreditava no que estava vendo. O que era aquilo? Algum mutante? Perguntava-se Douglas. A velha caiu na gargalhada e ele perguntou:

- Quem é você?
- Como quem sou eu? Você passa dias e dias me chamando, diz que não existo, que só apareço pra fazer maldades, pra deixar as pessoas tristes…
- Quer dizer que você é…
- Isso mesmo… Prazer! Eu sou a tão temida morte.
– Enquanto isso a velha vai arrancando sua pele enrugada do rosto e aos poucos vai rejuvenescendo.
- E porque você demorou tanto a aparecer?
- Meu querido, eu sou muito ocupada. Trabalho dia e noite, carrego muito peso. Não tinha tempo de lhe fazer uma visita, a sua hora não tinha chegado ainda. Agora que estou de férias, não conseguia descansar porque você não parava de me chamar.
- Mas a minha hora chegou? Eu não quero ir agora.
– Fala Douglas apavorado.
- Não, a sua hora não chegou, ainda não é o momento. Estou aqui apenas para uma visita.
- E porque você veio na forma daquele animal? Você sempre chega assim?
- Nem sempre, aquilo foi um disfarce, pois como falei estou de férias e não posso sair por aí com a minha verdadeira forma.
- E qual é a sua verdadeira forma? Porque você deixou de ser velha e agora está mais jovem?Eu não sabia que a morte tirava férias. E durante esse tempo ninguém morre?
- Nossa! Garoto como você faz perguntas… Primeiro, estava velha porque estava fora do meu habitat, quando passo muito tempo fora, sem trabalhar, fico toda enrugada. Depois de algum tempo a pele vai caindo aos poucos, e aí vou rejuvenescendo… Segundo, a morte tira férias sim. Deixei um estagiário no meu lugar. Você pensa que não cansa todos os dias ter que ir a vários lugares diferentes e sair carregada de pesos? Tem almas que pesam, pois resistem a mim, tem outras que já estão preparadas e então é leve como uma pluma. Esses são os melhores pra levar, pois não gasto tanta energia… E por último, a minha verdadeira forma é essa que você está vendo agora.

- Hum! Você não é tão feia quanto dizem.- Pois é. Não sou nem tão feia e nem tão má… Muitas pessoas têm medo de mim, tudo por causa do meu trabalho. O que posso fazer? Só faço cumprir ordens… Sinto dizer amigo que tenho que ir embora. Já passei muito tempo fora e as minhas férias já estão acabando. Foi um prazer conhecê-lo… Até breve.

A morte diz as suas últimas palavras e se transforma novamente naquela ave estranha. Olha nos olhos de Douglas como quem diz um “tchau”, bate as asas e ele faz menção de dizer alguma coisa, mas continua mudo e ela voa. Douglas fica perplexo, dá adeus com a mão, e decide não contar nada pra ninguém sobre tudo o que tinha acabado de acontecer. Pois quem acreditaria que ele tivera um encontro com a temida morte?